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Nascido para o campo


Publicado 25/05/2019 09:00
Atualizado 25/05/2019 09:05

Geral   DIA DO PRODUTOR RURAL

Quando o sol começa a se esconder, Douglas Luiz Breunig pausa as atividades, senta em um canto da propriedade rural em Linha Nova, interior de Santa Cruz, e recebe o pagamento por seu dia de serviço. A vista do pôr do sol é, para ele, a recompensa de todo seu esforço na agricultura. Segundo ele, aquilo que ali enxerga, não é imaginável dentro de um escritório da cidade. Ali, encostado na terra, o jovem de 23 anos entende que nasceu para dirigir trator e viver entre o gado.

A vida que para muitos jovens é descartada, para ele, é a melhor que poderia ter. “Tem que nascer para isso e eu nasci para trabalhar na lavoura”, reforça. Por isso, quando cresceu, resolveu se especializar naquela que sempre foi a profissão da família. Formado pela Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc), o agricultor confirmou em seus anos de estudos aquilo que sempre sentiu enquanto brincava no campo durante a infância: assim como seu pai, queria uma vida no meio rural.

Embora tivesse o apoio dos pais para qualquer decisão que tomasse, Breunig encheu os dois de orgulho quando demonstrou que sua vontade era ficar e contribuir na produção de tabaco, milho e na criação de gado. Com os conhecimentos obtidos, teve a chance de ajudar os pais Adelar Reinoldo e Vera Lucia a incluírem a teoria nos dias de prática. “Passei a ter um olhar crítico. Se há uma poça, penso: como vou eliminar para produzir ali dentro? É preciso ter uma visão geral de tudo, dos mínimos detalhes”, diz. Porém, ele sabe que a prática sempre vem na frente. “No papel tudo é fácil. É preciso vivenciar para saber como aplicar a teoria”, destaca.

“Quem é do campo, gosta de bicho”

É entre muitas cabeças de gado que Douglas Breunig se imagina daqui 10 anos. “Sempre tive paixão por bicho. Quem é do campo, gosta de bicho. Desde quando eu era criança meu pai dizia: Esse é tua responsabilidade! Aí a gente começa a se apegar”, relembra. Por esse motivo, o produtor rural também cogita um dia fazer Medicina Veterinária. “Sou técnico agrícola, tenho curso de operador de máquinas pesadas, seria veterinário, mas sempre funções que me mantivessem no meio rural”, explica.

Agricultor é um pouco de tudo

Mecânico, agrônomo, meteorologista, veterinário e administrador. O profissional que muitos qualificam como ignorante, é talvez o que mais acumula conhecimento, de diferentes áreas. “Essa visão vem da festa junina, da imagem do caipira. As pessoas mostram para as crianças que as pessoas do campo são assim, atrasadas, de roupas rasgadas e sem internet. Falta incentivo. Falta mostrar o quanto de conhecimento que temos e o quanto a nossa vida também é boa”, diz.

O que falta também, segundo Breunig, é reconhecimento. No protesto contra a Reforma da Previdência, em Santa Cruz, enquanto os agricultores esperavam aplausos, muitas vezes receberam deboche. “Estávamos lutando por nós, mas também por algo que afeta a todos. As pessoas se esquecem de pensar: Se o cara lá não plantar e o caminhoneiro não transportar, eu não vou comer”, analisa.

Conforme o jovem, a sociedade precisa lembrar todos os dias sobre como a comida chega ao prato na hora do almoço. “Muitos reclamam dos preços, outros nos acusam de envenenar o povo, mas poucos lembram que trabalhamos, sem horário de expediente, em prol da alimentação e da vida de todos”, diz.

Enquanto sonha com um mundo em que o produtor rural tenha um lugar de destaque, Douglas Breunig segue seus dias de luta. Acorda e agradece a Deus por poder pisar na terra, alimentar os animais, cuidar das lavouras e voltar para casa - com cheiro de bergamota e mãos sujas -, mas com o coração feliz por semear o amor pelo profissional que alimenta todos os outros.