É quase primavera e ainda não passou
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É quase primavera e ainda não passou


Publicado 02/09/2020 11:09
Atualizado 02/09/2020 13:44

Eu sei, ninguém imaginava que seria assim. Quando brindamos 2020 na virada do ano ou quando o Brasil pulou carnaval, nem sonhávamos que um ano tão esperado seria da mesma forma tão desesperador. O vírus chegou, ficamos em casa e saímos quando tudo piorou. As coisas ficaram mais difíceis, a pandemia ficou mais perigosa e quando a proteção se tornou mais necessária, os brasileiros já não tinham mais saúde financeira para ficarem isolados. Nenhum caminho se tornou confiável. Nas ruas, riscos para nossos pulmões. Em casa, parados, riscos para nossas carteiras. Na encruzilhada do coronavírus, nenhuma alternativa segura. 

Foi quando percebemos que era preciso se acostumar. Hoje, ao caminhar até o trabalho, já até esquecida do acessório sobre meu rosto, olhei ao redor. Sempre costumei observar as graciosas senhoras de carrinhos ou sacolas em mão, indo ou retornando da feira nas quartas-feiras. Agora, com passos ainda mais lentos pelas dificuldades respiratórias que a máscara também impõe, lá estavam elas. Protegidas como podem, com as verduras, legumes e frutas em mãos. Ao enxergá-las, lembrei do que chamamos de novo normal. Pensei no quanto passamos a viver no automático, ignorando muitas vezes as tristes estatísticas, mas programados para continuar vivendo, "do jeito que dá", até o dia em que uma imunização chegar. 

Ao mesmo tempo, recordei o que ouvi em uma missa, quando o padre salientou: "eu não gosto do novo normal. Queremos o nosso antigo normal". E também concordo com ele. Por mais esperançoso que seja dizer que precisamos nos acostumar, viver da melhor maneira possível por enquanto, é inegável o quanto sentimos saudades do mundo de antes. Dos abraços. Dos encontros. De viver com diversos receios, menos o de morrer por conta de um vírus. De quando não tínhamos medo de chegar perto de nossos pais e avós. De quando nossos rostos ficavam descobertos em qualquer lugar. Do mundo com festas, eventos, estádios, viagens e shows liberados. Da liberdade que tínhamos e muitas vezes ignorávamos. 

Setembro chegou, já é quase primavera. Ainda não passou, mas passará. Que possamos viver por enquanto "do jeito que dá", mas sem esquecer do que tínhamos antes. Afinal, quando for seguro, não vamos pensar duas vezes quando alguém questionar: "Vamos?" Iremos. Sem medo, com muito aprendizado obtido durante uma pandemia e certos de que melhor do que ficar em casa é não deixar para depois.


Foto: Freepik
É quase primavera e ainda não passou








Luiza Adorna Jornalista, sonhadora e escritora. Apaixonada pelas letras e pelo jornalismo desde criança. Gosta de observar a vida e registrar o que enxerga pelas ruas. Gosta de contar a história das pessoas. Gosta de narrar a existência humana. Notas de Rua é um blog sobre a vida, sobre o cotidiano e sobre aquilo que não deve passar despercebido.