Enquanto houver insegurança, eu vou continuar andando em zigue-zague
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Enquanto houver insegurança, eu vou continuar andando em zigue-zague


Publicado 10/09/2018 13:13
Atualizado 10/09/2018 13:42

Há alguns dias minha amiga compartilhou uma imagem nas redes sociais que dizia: “Meninas, vocês também andam na rua o tempo todo pensando qual o caminho mais seguro? Por exemplo: vou desse lado da calçada porque tem uma senhora e não vão mexer tanto comigo ou vou virar nessa rua porque se algum cara tentar algo eu tenho para onde correr”. Quando li isso, meu coração entristeceu e resolvi que esse assunto, que já gostaria de ter falado sobre há algum tempo, precisava sair do meu coração.

Se meu caminho para casa levaria 10 minutos, demora 15 por conta das mudanças de calçada, rotas improvisadas e desvios desnecessários. Eu não sei vocês, mas eu vivo com medo e, por conta desse medo, acabo fazendo julgamentos diários. Desculpa, desconhecido, mas até que me provem o contrário, você será um suspeito para mim. Desculpa homem de bem, eu não queria pensar que você é um bandido ou um estuprador, mas eu não tenho culpa do mundo estar do jeito que está.

Eu e todas as outras mulheres só queremos sair e ter certeza de que vamos chegar. Você, mulher, que lê este texto agora, reflita: quantas vezes você pensou que não chegaria? Quantas vezes você trocou o lado da calçada, entrou em uma loja, acelerou o passo ou reduziu para ir ao lado de outra mulher? Só queríamos poder caminhar, em segurança, com o celular na mão ou sem medo do modo como nos olham. Só queríamos ir para casa sem ouvir frases nojentas, sem nos sentir vigiadas ou constrangidas.

Quero um mundo em que possamos caminhar em linha reta, sem precisar voltar, sem precisar parar, correr ou reduzir o passo. Quero um mundo em que consigamos voltar a acreditar, como na inocência da infância, de que todo caminho é bom. Só queria me sentir protegida. Mas, enquanto houver insegurança, eu vou continuar andando em zigue-zague.


Enquanto houver insegurança, eu vou continuar andando em zigue-zague








Luiza Adorna Jornalista, sonhadora e escritora. Apaixonada pelas letras e pelo jornalismo desde criança. Gosta de observar a vida e registrar o que enxerga pelas ruas. Gosta de contar a história das pessoas. Gosta de narrar a existência humana. Notas de Rua é um blog sobre a vida, sobre o cotidiano e sobre aquilo que não deve passar despercebido.